A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne
- Felipe Reimberg Berlofa
- 27 de abr. de 2023
- 2 min de leitura

"É curioso, no entanto, como às vezes muito tempo pode se passar até que as palavras habitem as coisas; e com que segurança duas pessoas que decidem evitar certo assunto são capazes de chegar ao exato limiar de acesso a ele para, em seguida, afastar-se em tê-lo tocado."
Nota: ⭐⭐⭐⭐
Editora: Penguin Companhia
Escrito em 1850 por Nathaniel Hawthorne, "A Letra Escarlate" é um dos principais romances clássicos da literatura norte-americana; e mesmo com uma premissa relativamente simples, a história nos prende.
A narrativa se passa em uma Boston puritana, no século XVII, e conta a história de Hester Prynne, uma mulher que ao vir viver no Novo mundo e esperar dois anos por seu marido, acaba se envolvendo em um adultério e nascendo desse pecado uma criança, a pequena Pearl. Assim, Hester é condenada por seu pecado e forçada a usar uma letra "A" escarlate em seu peito como símbolo de sua culpa.
Em sua condenação, ela reconhece o seu esposo que veio do Velho Mundo, e ao conversarem, Hester decide não contar que o recém-chegado é seu marido, mas em contrapartida, o homem decide viver naquele vilarejo com outro nome e profissão, decidido a descobrir quem é o pai de Pearl e buscar vingança.
Dentro desse enredo, o livro acaba desenvolvendo uma reflexão sobre a moralidade e a hipocrisia da sociedade puritana da época e sobre a natureza do pecado e do perdão. O destaque de minha leitura vai para a personagem Hester, uma personagem que se demonstra forte e determinada ao recusar a se submeter às expectativas da sociedade, e luta para criar sua filha sozinha, apesar da vergonha e do estigma que a acompanham. Perceberemos ao longo do livro como ela enfrenta o desprezo e a hostilidade dos outros habitantes da cidade e como essa noção sobre ela se transforma ao longos dos anos.
O livro também apresenta personagens complexos que moldam todo esse contexto puritano do século XVII; desde o reverendo Arthur Dimmesdale, trazendo todo esse embate e viés religioso e calvinista dos tempos presente na obra, e o governador Bellingham, que representa a autoridade corrupta da sociedade puritana.
Mesmo sendo uma obra onde conseguimos sacar desde o começo seu desenlace e seus plots, a escrita de Hawthorne torna a obra hábil, consegue te manter interessado. Nesta edição primorosa da Penguin Companhia, encontramos uma tradução maravilhosa e um posfácio da professora Nina Baym que nos situa melhor dentro do contexto do autor e uma análise sobre os papeis das personagens e como elas conduzem a trama.
"A Letra Escarlate" é um livro que oferece uma visão fascinante e perturbadora da sociedade puritana da América colonial e que ainda é relevante nos dias de hoje. E como desde o início da obra, ela se propõe a discutir uma história de "dor e fragilidades humanas" e não somente sobre culpa e julgamento moral.
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