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A Vida Mentirosa dos Adultos, de Elena Ferrante



“O que se passava, afinal, no mundo dos adultos, na cabeça de pessoas extremamente racionais, em seus corpos carregados de saber? O que os reduzia a animais dentre os menos confiáveis, piores do que os répteis?”


Nota: ⭐️⭐️⭐️

Editora: Intrínseca


Elena Ferrante atualmente é uma das minhas autoras favoritas. Apesar de ainda não ter embarcado na leitura de sua tetralogia, seus outros livros sempre deixaram reflexões em mim e sua habilidade de escrita - em traduções primorosas - me inspiram como escritor. Mas confesso que essa obra me fascinou pelas personagens, apesar da narrativa não ter me apetecido.


Em A Vida Mentirosa dos Adultos temos uma narrativa visceral e envolvente sobre as complexidades de crescer e confrontar as verdades e mentiras que moldam nossa percepção dos outros e de nós mesmos. Sem idealizações, o livro nos faz revisitar as dores e descobertas que envolvem o amadurecimento.


A trama tem início quando Giovanna, a protagonista, escuta seu pai dizer que ela está "ficando igual à tia Vittoria", uma mulher que ele despreza profundamente. A frase é um gatilho que impulsiona a jovem a embarcar numa jornada de autoconhecimento e exploração. Incomodada com a comparação, Giovanna passa a buscar respostas sobre quem é essa tia misteriosa e o que significa para ela ser comparada a uma figura tão controversa.


Ao reencontrar a tia Vittoria, Giovanna é apresentada a um mundo radicalmente diferente do seu. Vittoria é uma mulher crua, vulcânica, em completo contraste com o ambiente controlado e burguês em que Giovanna foi criada. O relacionamento entre as duas provoca uma série de reflexões na protagonista, que passa a questionar as convenções sociais, as verdades ditas pelos adultos e o lugar que ocupa em meio a tantas contradições.


Conforme a narrativa avança, Ferrante habilmente revela o desmoronamento das idealizações que a menina nutria em relação à família. Mentiras e segredos ocultos começam a vir à tona, e Giovanna, aos poucos, descobre que os adultos ao seu redor não são os heróis infalíveis que acreditava. Pelo contrário, eles são tão falhos e contraditórios quanto qualquer outra pessoa. Esse processo é doloroso, mas fundamental para o seu crescimento.


Ferrante também aborda a questão da sexualidade emergente de Giovanna, influenciada pela relação com a tia, que a expõe a novas formas de pensar e sentir. Aos 13 anos, a protagonista está em um ponto de transição delicado, onde a inocência da infância vai sendo substituída por uma consciência crítica e complexa da vida adulta.


Apesar de algumas passagens desconfortáveis, a leitura flui e provoca reflexões profundas sobre a construção da identidade e o difícil processo de se descobrir em meio às decepções da vida. Dessa forma, Ferrante nos lembra que crescer é, acima de tudo, aprender a lidar com as sombras que os adultos projetam sobre nós.

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