Em Agosto nos Vemos, de Gabriel García Marquéz
- Felipe Reimberg Berlofa
- 3 de fev.
- 2 min de leitura

No entanto, ela precisou de vários dias para tomar consciência de que as mudanças não eram no mundo, e sim nela própria, que sempre andou pela vida sem enxergá-la e só naquele ano, ao regressar da ilha, começou a vê-la com olhos de aprendiz.
Nota: ⭐️⭐️⭐️⭐️
Editora: Record
O lançamento póstumo de um autor tão consagrado quanto Gabriel García Márquez sempre desperta uma mistura de entusiasmo e cautela. Em Agosto nos Vemos chega ao público carregado dessa dualidade: a alegria de ter em mãos um novo texto do mestre colombiano e a incerteza de acessar uma obra que ele próprio não publicou em vida.
Originalmente concebido como uma série de contos interligados, o livro evoluiu para uma narrativa única protagonizada por Ana Magdalena Bach – uma mulher de 46 anos que, anualmente, viaja a uma ilha para visitar o túmulo da mãe. Esse ritual, carregado de melancolia e lembranças, sofre uma transformação quando, em uma dessas visitas, ela se entrega a um encontro inesperado. O episódio desencadeia uma jornada de autodescoberta, levando Ana Magdalena a desafiar sua rotina e a explorar novas experiências, ressignificando sua própria existência.
Diferente das obras mais emblemáticas de García Márquez, que frequentemente mergulham em realismo mágico e narrativas repletas de exuberância, Em Agosto nos Vemos apresenta um tom mais introspectivo e direto. A escrita, ainda que fluida e envolvente, carrega um peso de inacabado – como se fosse uma história que, por mais bem estruturada que esteja, talvez ainda precisasse do olhar final do autor para atingir todo o seu potencial.
No fim, Em Agosto nos Vemos é uma leitura que intriga e provoca reflexões. Não é um dos romances mais marcantes de García Márquez, mas tem seu valor – seja pelo retrato sensível da protagonista, seja pelo simples fato de nos permitir, mais uma vez, mergulhar na voz única de um dos maiores escritores da literatura latino-americana.
A edição, por outro lado, é um presente para os leitores. O livro traz fac-símiles e anotações feitas pelo próprio Gabo, proporcionando uma rara oportunidade de enxergar um pouco de seu processo criativo. Esse detalhe aproxima o público do escritor, tornando a leitura ainda mais significativa para aqueles que acompanham sua obra há anos.
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