História do novo sobrenome, de Elena Ferrante
- Felipe Reimberg Berlofa
- 15 de fev.
- 2 min de leitura

A beleza das coisas é um truque, o céu é o trono do medo; estou viva, agora, aqui, a dez passos da água, e isso não é nada belo, é aterrorizante; faço parte, com esta praia, com o mar, com a agitação de todas as formas animais, do terror universal; neste momento sou a partícula infinitesimal por meio da qual o assombro de cada coisa toma consciência de si.
Nota: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Editora: Biblioteca Azul
A forma como uma autora se torna uma de suas favoritas é uma sensação única. E continuar a Tetralogia Napolitana é certeza de que a história de Lenu e Lila irá te marcar para toda a sua vida de leitor ou leitora.
O segundo volume da aclamada Tetralogia Napolitana, História do Novo Sobrenome, de Elena Ferrante, mantém e até eleva a qualidade narrativa estabelecida em A Amiga Genial. A obra continua a explorar a intensa e complexa amizade entre Lenu e Lila, agora em uma fase mais avançada da juventude, repleta de desafios que envolvem sonhos, relacionamentos, profissão e escolhas.
Com uma escrita envolvente, Ferrante nos transporta novamente ao universo napolitano, onde acompanhamos a evolução das protagonistas em um ambiente fortemente marcado por violência, misoginia e desigualdade social.
O título da obra já traz consigo um simbolismo poderoso. Ele remete à mudança de identidade imposta às mulheres pelo casamento, um tema central no desenvolvimento de Lila, que se casa ainda muito jovem e se vê forçada a enfrentar uma dura realidade.
A narrativa não se esquiva de retratar de maneira crua e impactante as violências sofridas pelas personagens, especialmente no que diz respeito às imposições do matrimônio e ao papel feminino na sociedade da época. A autora expõe, por meio de cenas marcantes, a naturalização da opressão dentro das estruturas familiares e sociais, levantando questões que permanecem pertinentes até os dias de hoje.
A dinâmica entre Lenu e Lila continua a ser um dos grandes trunfos da história. A amizade entre as duas é forjada tanto pela admiração mútua quanto pela rivalidade latente. Lenu, disciplinada, insegura e em busca de aprovação, se contrapõe a Lila, impetuosa, impulsiva e desafiadora. Mesmo com todas as diferenças, as duas compartilham a sensação de deslocamento e de luta por um espaço próprio em um mundo que lhes impõe limites. Essa relação complexa confere profundidade emocional à narrativa e faz com que o leitor se envolva de maneira intensa com as trajetórias das protagonistas.
Além da força dos personagens e da carga emocional presente no enredo, a escrita de Ferrante se destaca pela fluidez e pela construção de uma atmosfera vívida e detalhada. A forma como a autora conduz a história faz com que os leitores se sintam parte da vida dessas jovens, acompanhando suas dores, anseios e transformações. Cada reviravolta é um convite para continuar virando as páginas, sem conseguir largar o livro.
A obra não apenas dá continuidade ao que foi estabelecido no primeiro livro, como também expande os conflitos e aprofundamentos psicológicos das personagens. A habilidade de Ferrante em criar personagens femininas tão reais e complexas torna esta leitura indispensável para quem aprecia romances intensos e reflexivos.
Assim, a obra me deu ainda mais vontade de ler as próximas obras, e logo já estarei lendo o terceiro livro!
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