Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz, de Gregory Maguire
- Felipe Reimberg Berlofa
- 25 de out. de 2023
- 3 min de leitura

"- O Leão quer coragem, o Homem de Lata quer um coração e o Espantalho um cérebro. Dorothy quer ir para casa. O que você quer ?
-Um pouco de paz e silêncio. -Não, de verdade. [...] a Bruxa parou e, no fim, o que saiu de sua boca surpreende os dois.
-Uma alma..."
Nota: ⭐⭐⭐⭐❤️
Editora: Leya
Qual é a origem da maldade? Como uma questão universal para nós seres humanos, entender a raiz do que torna uma pessoa má é discutida a séculos. Mas se o mal, certas vezes, for apenas uma questão de narrativa?
"Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz", de Gregory Maguire, é uma obra literária que mergulha profundamente no mundo mágico e familiar de Oz, mas com reviravoltas surpreendentes e ousadas. Publicado em 1995, o livro se tornou um fenômeno cultural e inspirou o famoso musical da Broadway de mesmo nome.
Em síntese, Maguire reimagina a clássica história de "O Mágico de Oz", de L. Frank Baum, de uma maneira única, contando a história sob a perspectiva das bruxas do Oeste e do Sul, Elphaba e Glinda. Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, é retratada como uma personagem complexa e extremamente interessante. Sendo praticamente a personagem principal da trama, o autor explora sua jornada desde a infância até sua ascensão como uma figura temida em Oz, revelando as motivações por trás de suas ações narradas como más. Enquanto isso, Glinda, a Bruxa Boa do Sul, é pintada como uma personagem coadjuvante mais superficial no início, mas à medida que a narrativa avança, sua complexidade se desdobra, mostrando as camadas emocionais por trás de sua fachada de superficialidade.
O que mais me surpreendeu em Wicked é justamente o mundo de Oz. Maguire dá vida a esse universo com uma riqueza de detalhes, criando uma história envolvente e rica em camadas. Seus personagens introduzem uma sociedade diversa e cheia de intrigas políticas e religiosas, onde bruxas, humanos e animais falantes, e outros seres desempenham papéis cruciais no desenvolvimento desse ecossistema. Maguire desafia os leitores a considerar as questões de preconceito, discriminação e desigualdade social de uma maneira que ressoa com o mundo real, tornando a leitura não apenas envolvente, mas também profundamente reflexiva.
E sem dúvida, a questão central da trama é a discussão sobre o que é a maldade. Ao nos colocar na visão da antagonista da história original de Oz, vamos nos questionando ao longo da obra sobre qual é a natureza da maldade, e vemos que as coisas podem ser muito mais cinzentas do que apenas a dicotomia bem-mal. E essa discussão, principalmente na segunda metade do livro, é levada com maestria pelas personagens complexas e dinâmicas.
No entanto, "Wicked" não é uma leitura leve e exige uma mente aberta para apreciar sua complexidade e profundidade. É uma exploração de temas sombrios, como o preconceito, a opressão e a natureza da maldade. Maguire desafia os estereótipos tradicionais dos contos de fadas e nos faz repensar nossas próprias suposições sobre personagens icônicos.
Assim, apesar de sentir ao longo da trama que aquele mundo ao mesmo tempo não era Oz, por conta de toda a minha infância crescendo com a obra original, ter essa quebra de expectativa carregada pelas personagens e tramas políticas me aproximou muito da história. Recomendo a todos que querem conhecer mais sobre o musical e ter uma visão diferente de Oz.
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